19/02/2008

Sentimentos

Sentimentos


Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e
qualidade dos homens em um lugar da terra. Quando o aborrecimento
havia reclamado pela terceira vez, a loucura lhes propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?

A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade sem poder
conter-se perguntou:
- Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo. explicou a loucura, em que eu fecho os olhos e começo a
contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu
tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar
ocupara meu lugar para continuar o jogo.

O entusiasmo dançou seguido pela euforia.
A alegria deu tantos saltos que acabou por convencer a dúvida e ate
mesmo a apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos
quiseram participar: A verdade preferiu não esconder-se.
"Para que,se no final todos me encontram?" - Pensou.
A soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a
incomodava era que a idéia não tivesse sido dela) e a covardia
preferiu não arriscar-se.

- Um, dois, três, quatro... - Começou a contar a loucura.
A primeira a esconder-se foi a pressa, que como sempre caiu atrás da
primeira pedra do caminho. A fé subiu ao céu e a inveja se escondeu
atrás da sombra do triunfo, que com seu próprio esforço tinha
conseguido subir na copa da arvore mais alta.

A generosidade quase não consegue esconder-se, pois cada local que
encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos: Se
era um lago cristalino, ideal para a beleza. e era a copa de uma
arvore, perfeito para a timidez. Se era o vôo de uma borboleta, o
melhor para a volúpia. Se era uma rajada de vento, magnífico para a
liberdade. E assim, acabou escondendo-se em um raio de sol.

O egoísmo, ao contrario, encontrou um local muito bom desde o
inicio. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele.
A mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade,
escondeu-se atrás do arco-íris) e a paixão e o desejo, no centro dos vulcões.

O esquecimento, não recordo-me onde escondeu-se, mas isso não é o
mais importante. Quando a loucura estava lá pelo 999.999, o amor
ainda não havia encontrado um lugar para esconder-se, pois todos já
estavam ocupados, ate que encontrou um rosa e, carinhosamente,
decidiu esconder-se entre suas flores.

- Um milhão! - terminou de contar a loucura e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a pressa apenas a três passos de uma
pedra. Depois, escutou-se a fé discutindo com Deus, no céu sobre
zoologia. Sentiu vibrar a paixão e o desejo nos vulcões. Em um
descuido, encontrou a inveja e claro, pode deduzir onde estava o triunfo.

O egoísmo, não teve nem que procura-lo. Ele sozinho saiu disparado
de seu esconderijo que na verdade era um ninho de vespas. De tanto
caminhar, sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a
beleza. A dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada
sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se.

E assim foi encontrando a todos: O talento entre a erva fresca, a
angustia em uma cova escura, a mentira atrás do arco-íris (mentira,
estava no fundo do oceano) e ate o esquecimento, que já havia
esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o amor não aparecia em nenhum local.

A loucura procurou atrás de cada arvore, em baixo de cada rocha do
planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se por
vencida, encontrou um roseiral.

Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo
instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o
amor nos olhos. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se.
Chorou, rezou, implorou, pediu e ate prometeu ser seu guia.

Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de
esconde-esconde na terra:
O amor é cego e a loucura sempre o acompanha.

Bjinhos....

\\mel// - 13:20 pm

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